quarta-feira, 31 de julho de 2013

"Ele acreditava em mim", diz sobrevivente que perdeu o marido na tragédia Jarlene Spitzmacher Moreira tem dificuldade para andar, mas participa das manifestações para pedir justiça. O Site do Diário traz histórias de sobreviventes na semana que marca os seis meses da tragédia

Jean Pimentel / Agencia RBS
Desde o começo do namoro, ainda no tempo em que estudavam no Colégio Estadual Tancredo Neves, a vendedora Jarlene Spitzmacher Moreira e o militar Leonardo de Lima Machado, ambos de 27 anos, começaram a decidir os passos que dariam. Foi assim ao longo dos 10 anos em que estiveram juntos. Tudo foi decidido a dois: o ingresso dele no Exército, o trabalho dela no comércio, a mudança para a casa dos pais de Jarlene, o tratamento médico para terem um filho em 2013...
Seis meses depois da morte do marido, na tragédia da boate Kiss, a vendedora aprende a dar os primeiros passos sozinha. Salva por Leonardo, Jarlene ficou internada no Hospital de Caridade durante 18 dias, uma semana em coma induzido. Ela já chegou ao hospital sabendo que o primeiro namorado, companheiro de uma década, não havia sobrevivido. O jovem morreu ao tentar salvar outras pessoas.
Jarlene não ficou com cicatrizes aparentes na pele nem amputou órgão algum. Mas saiu do hospital em uma cadeira de rodas e, para levantar dela, transformou-se em uma guerreira. Da cadeira ao andador e dele para as muletas. Agora, ela sonha com o dia em que conseguirá se movimentar sozinha. Um caminho bem diferente do que ela e Leonardo planejaram, mas um recomeço construído um passo após o outro.
– Fiquei sem conseguir andar devido a um problema no sistema nervoso. Faço fisioterapia duas vezes por semana e tenho consultas com o psiquiatra a cada 15 dias. Ainda passei a usar bombinha para ajudar na respiração porque inalei muita fumaça. Mas já melhorei muito. Espero poder voltar ao trabalho até novembro. Só o que não passa é essa falta que ele me faz – conta Jarlene.
Para recomeçar, a vendedora conta com o apoio da mãe, Venir Spizmacher, 51 anos.
– Eu converso muito com ela. Porque é preciso seguir em frente. Quando ela teve alta e começou a tentar caminhar, eu ficava perto do sofá e dizia: agora, tenta vir até onde eu estou sem o andador. Aos poucos, ela foi conseguindo. É a mesma coisa que eu fiz quando ela era criança e estava tentando caminhar pela primeira vez – comenta dona Venir.
Jarlene ainda não consegue dormir no quarto que era do casal. Algumas noites tem pesadelos e prefere não ver os inúmeros álbuns com as fotografias das viagens de moto que fizeram juntos. Os sorrisos podem ser contados nos dedos. Mas ela quer, com todas as forças, recomeçar e se apega a um motivo em especial para isso.
– Algumas semanas antes da tragédia, estávamos conversando, e o Leonardo disse que, se um dia algo ruim fosse acontecer com um de nós, ele preferia que fosse com ele, porque eu era mais forte. Ele disse que acreditava que eu conseguiria seguir em frente. Sabe, tem dias que o mundo desaba. Mas eu lembro daquilo que ele falou e que eu tenho de conseguir porque ele acreditava em mim – diz Jarlene, que, mesmo com dificuldades para andar, faz questão de participar das manifestações para pedir justiça no caso.

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